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O Brasil e as Organizações Internacionais
A Preferência Pelo Mercosul
O
Mercosul é resultado da aproximação política e econômica entre Brasil e
Argentina. O bloco econômico possui ainda como membros o Uruguai e o
Paraguai e, mais recentemente, a Venezuela. Chile e Bolívia são membros
associados, participando apenas da zona de livre comércio.
A crescente importância do Mercosul deve-se principalmente à liderança
dos brasileiros, que acreditam ser o bloco econômico regional o
principal instrumento de negociação política e econômica dos países da
América do Sul no cenário mundial.
A economia brasileira representa cerca de 60% do total do bloco e é
três vezes maior que a da Argentina, a segunda mais importante. Em 1991,
o comércio internacional entre os sócios fundadores totalizava
aproximadamente 4,5 bilhões de dólares por ano. Em 2000, ultrapassou
15,5 bilhões e, em 2007, a cifra aproximou-se da casa dos 29 bilhões de
dólares anuais.
O Brasil no Mercosul
Foram necessários apenas dez anos para o Brasil se tornar o principal
parceiro comercial de Argentina, Paraguai e Uruguai, superando os
Estados Unidos e a União Européia.
Os comércios do Paraguai e do Uruguai são os que mais dependem do
Mercosul e, principalmente, das relações comerciais com o Brasil.
Cerca de 55% das exportações do Paraguai são destinadas ao bloco
econômico, 40% das quais para o Brasil. Já no Uruguai, a porcentagem de
exportações é de 40% para o Mercosul, sendo 35% para o Brasil.
A Argentina é um pouco menos dependente do Mercosul e do Brasil,
sendo 35% de suas exportações destinadas ao bloco, 25% das quais à
potência vizinha.
O crescente sucesso do Mercosul aponta para uma mudança definitiva
nas relações entre o Brasil e seus vizinhos na América do Sul. O Brasil
parece ter obtido o reconhecimento de sua condição de potência regional e
está disposto a promover e a liderar uma maior integração entre todos
os países sul-americanos.
O Brasil e a Alca
Um dos grandes desafios para a política externa brasileira, nesse
início de século XXI tem sido resistir, de forma ponderada e
diplomática, aos desejos dos estadunidenses de criar a Alca (Área de
Livre Comércio das Américas). A implantação, prevista para 2005, foi na
época adiada para 2007 em decorrência da atuação do Brasil, e as
negociações estão paralisadas.
Para os Estados Unidos, que lideram as relações comerciais, as
vantagens da criação da Alca são muitas: eles abririam as portas para um
mercado gigantesco, com cerca de 800 milhões de consumidores,
aumentando suas exportações importando mercadorias que não produzem em
quantidade suficientes – como algumas matérias-primas e alimentos – por
preços bem menores.
Os representantes do Brasil, porém, receiam que as economias dos países
latino-americanos se tornem reféns da poderosa economia estadunidense.
Isso significaria mantê-las como meras exportadoras de produtos
primários e importadoras de bens industrializados e de tecnologia.
De acordo com os negociadores brasileiros, a Alca poderia ainda
prejudicar as exportações de produtos industrializados dos
latino-americanos, como o próprio Brasil, a Argentina, o Chile, a
Venezuela e o México, para alguns países da Europa e da Ásia.
Esses mercados interessam mais ao Mercosul, por exemplo, que aos
Estados Unidos, pois os países europeus e asiáticos não são compradores
somente de produtos primários – como é o caso dos Estados Unidos.
A Liderança Brasileira
Na liderança, o Brasil pretende unir os países latino-americanos, em
uma negociação conjunta com os Estados Unidos para a implantação da
Alca. O objetivo é que a organização continental favoreça o
desenvolvimento econômico e social da América Latina, e não submeta a
região aos interesses econômicos da superpotência mundial.
Embora os Estados Unidos considerem o Brasil uma peça-chave no novo
bloco, já se cogitou a idéia de criar a Alca mesmo sem a adesão
brasileira, em razão das dificuldades nas negociações. Se isso
acontecesse, o Brasil sofreria um certo isolamento político, econômico e
diplomático.
O Brasil e a ONU
País-membro da ONU desde sua criação, em 1945, o Brasil tem participado
das conferências mundiais que abordam problemas globais e propõe
soluções.
Em 1992, a cidade do Rio de Janeiro foi a sede da Conferência Mundial
sobre o Meio Ambiente. Entre as diversas propostas da Rio-92 - como a
conferência ficou conhecida -, destaca-se a Agenda 21, um conjunto de
ações ambientais e sociais que visam ao uso racional dos recursos
naturais e ao desenvolvimento sustentável, considerando-se as
necessidades das futuras gerações.
Em 2004 foi realizada na cidade de São Paulo a 11ª reunião da Unctad
(Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), com a
presença de chefes de Estado e representantes de diferentes nações. A
proposta era discutir metas de desenvolvimento e integração ao comércio
internacional.
O Brasil e As Missões de Paz
Com a intenção de manter a paz entre as nações, a ONU envia tropas e
missões a locais de conflitos. Nos últimos anos, o exército do Brasil
tem participado ativamente dessas ações. Em 1999, foram enviadas tropas
brasileiras ao Timor Leste, na Ásia, para garantir a independência do
país. Desde 2004, o Brasil lidera as forças de paz da ONU, no Haiti.
Mediante essas ações no Haiti, o governo brasileiro tem feito esforços
para a criação de mais vagas permanentes no Conselho de Segurança da
ONU. Com o objetivo de conquistar uma vaga permanente, o Brasil busca o
apoio político de países subdsenvolvidos, mantendo estreitas relações
diplomáticas com potências regionais, como a Índia, na Ásia, e a África,
países que também desejam vagas permanentes no Conselho de Segurança.
O Brasil e o G-20
Com a liderança consolidada na América do Sul, a política externa
brasileira se volta para alcançar mais espaço político e econômico para o
Brasil no cenário mundial. A estratégia adotada é a aproximação com os
países subdesenvolvidos. Em setembro de 2003, por exemplo, a reunião da
OMC (Organização Mundial do Comércio) em Cancun, no México, o Brasil
liderou o grupo de países intitulado G-20, que pressionou os países
ricos para impedi-los de impor seus interesses comerciais aos mais
pobres.
A ação do G-20 levou a reunião da OMC a um impasse. Nenhuma nova regra
comercial foi votada, e os países subdesenvolvidos conseguiram, pelo
menos, demonstrar maior organização e união. O G-20 se constitui em uma
nova forma de representação em bloco, baseada na parceria e na
cooperação.
Os Interesses Brasileiros e o G-3
Nos últimos anos, os representantes do Brasil têm procurado ampliar as
relações diplomáticas e econômicas com alguns países do G-20. As mais
importantes aproximações ocorreram com a Índia e a África do Sul,
levando à criação do G-3.
Os três países desse grupo possuem muitos interesses comuns. Entre
eles, como vimos, está o de ocupar as futuras vagas permanentes do
Conselho de Segurança da ONU.
Com a Índia, além da parceria diplomática, vêm sendo realizadas
parcerias principalmente na área aeroespacial e nuclear. Entre o Brasil e
esse país são desenvolvidos importantes programas de cooperação
científica e tecnológica, com grande intercâmbio de pesquisadores e
técnicos. A aproximação com a África do Sul é mais recente. Os dois
países buscam oportunidades para ampliar suas relações comerciais. Em
2000, chegou a ser cogitada a possibilidade de os sul-africanos
ingressarem no Mercosul, mas as negociações não evoluíram.
Outro país do G-20 que interessa muito aos governantes do Brasil é a
China, que tem o maior mercado consumidor do mundo. Desde a década de
1970, quando as relações diplomáticas entre os dois países foram
retomadas, estabeleceram-se diversos acordos comerciais e programas de
cooperação, com destaque para os setores agropecuário, de produção e de
lançamentos de satélites. Os chineses são os maiores compradores de soja
brasileira e usam a Base Espacial de Acântara, no Maranhão, para
efetuar lançamentos de satélites e foguetes.
Figura
: Encontro Ministerial do G-20, Brasília (DF, 2003). Sob a liderança do
Brasil, o G-20 impediu que os países ricos votassem regras comerciais
prejudiciais aos países pobres na reunião da OMC em 2003.
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