quarta-feira, 18 de junho de 2014

Copas nos Hemiférios SUl e NOrte

s copas no hemisfério sul e a copa de 2018

A 19ª Copa do Mundo de futebol, que começou no dia 13 de junho, é a segunda vez em que o evento esportivo ocorre no Brasil. Transmitidas pela televisão para quase todos os recantos do planeta, as Copas funcionam como vitrines para os países e cidades que as sediam. Os embates dentro das quatro linhas dos gramados duram apenas algumas horas: cada país despende o máximo de seus esforços para mostrar, no palco do mundo e diante dos turistas estrangeiros, seus atrativos naturais, históricos e culturais.

A Copa do Mundo sempre é disputada em junho e julho, meses que correspondem ao verão no hemisfério norte e ao inverno no hemisfério sul. Desde 1950, primeira Copa no Brasil, esta será a quinta vez que o certame será disputado no hemisfério sul. O Chile sediou o evento de 1962; a Argentina, o de 1978; a África do Sul, o de 2010.

Na Copa de 1950 estiveram envolvidas apenas 13 seleções. As cidades sedes foram Rio de Janeiro (à época, capital federal), São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Recife. Levando-se em conta que a aviação comercial ainda engatinhava, os aeroportos brasileiros eram acanhadíssimos e as estradas não existiam ou eram precárias, a logística de deslocamento das seleções só não foi mais complicada por conta do número reduzido de equipes participantes e do pequeno afluxo de turistas.

Na Copa do Chile, em 1962, os jogos se realizaram nas cidades de Santiago (a capital), Viña del Mar, Rancagua e Arica. As três primeiras cidades são bem próximas umas das outras, localizadas na região central do país, núcleo geoeconômico e demográfico do Chile. Já Arica, localizada no norte, dista cerca de 2 mil quilômetros das demais. Mas, como o número de seleções era de apenas 16, a logística de deslocamento não ficou muito comprometida. Por sorte, apesar de a região central chilena experimentar clima mediterrâneo, com chuvas concentradas no inverno, a maior parte dos jogos realizou-se sob sol e temperaturas amenas.

A Copa da Argentina, em 1978, contou também com a participação de 16 seleções. As cidades sedes foram Buenos Aires (a capital), Mar Del Plata, Rosário, Córdoba e Mendoza. As quatro primeiras são relativamente próximas e situam-se na região do Pampa a principal área geoeconômica do país. Mendoza, nos contrafortes dos Andes, junto à fronteira com o Chile, era a mais distante. A questão dos deslocamentos das equipes não foi muito complicada por conta do número de seleções disputantes e pela relativa proximidade das cidades. Nenhuma cidade do norte argentino ou da Patagônia, no sul, foi sede de jogos.

Depois de longo intervalo, em 2010, a Copa retornou ao hemisfério sul, realizando-se, pela primeira vez, na África. Desde a Copa da França, em 1998, o evento da FIFA passou a contar com 32 seleções, formato que ampliou o total de cidades sedes. Todas as províncias da África do Sul, com exceção do quase desabitado Cabo Oriental, foram representadas por uma cidade sede – uma estratégia custosa, mas destinada tanto a atender demandas políticas internas quanto a exibir a diversidade cultural do país.

Uma Copa do Mundo, o Brasil sabe, começa bem antes do primeiro jogo. O longo processo passa pela escolha do país anfitrião e, depois pela seleção das cidades que sediarão os jogos. A seleção das sedes obedece a uma série de critérios – entre os quais, alguns de caráter técnico, relacionados às vistorias realizadas pela FIFA, que julga os projetos apresentados. Leva-se em conta a estrutura dos estádios: sua capacidade em número de espectadores, as condições do gramado, instalações para torcedores e imprensa, acessibilidade, segurança. Também analisa-se as condições de transporte urbano, adequação da malha aeroportuária, capacidade hoteleira e opções de lazer e turismo. É o tal do “padrão FIFA”...

As Copa de 2014 e de 2018, programada para a Rússia, terão a peculiaridade de ser realizadas em países continentais – o que torna a logística do torneio mais complexa, em virtude das distâncias a serem percorridas pelas equipes, por dirigentes e jornalistas e, ainda, por torcedores. Além disso, por conta da diversidade climática no Brasil, os jogos em Manaus serão realizados sob temperaturas próximas ou superiores a 30º C, com eventuais fortes pancadas de chuvas. Nas cidades sedes do Nordeste (Salvador, Recife, Natal e Fortaleza), as temperaturas também serão elevadas. No centro-sul do Brasil tropical, o inverno é a estação mais seca: por isso, Brasília provavelmente apresentará nível muito baixo de umidade do ar, o que pode afetar os atletas.

Nesta Copa do Brasil, a FIFA solicitou dez cidades sedes, mas o governo federal e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) insistirão na inclusão de mais duas. De um lado, a decisão refletiu conveniências políticas: o desejo de agradar o maior número possível de lideranças estaduais. De outro, decorreu da vontade de exibir a diversidade natural e cultural das regiões do país. Na Região Norte, por exemplo, a escolha de Manaus, em detrimento de Belém, cidade com maior tradição futebolística, gerou intensa polêmica. Brasília, na condição de capital federal, não poderia ficar de fora, apesar de sua escassa importância futebolística. Ninguém se surpreendeu com a seleção do Rio de Janeiro, a cidade mais conhecida do Brasil no exterior, como local onde da partida final.

A Rússia, anfitriã em 2018, tem extensão cerca de duas vezes maior que a do Brasil – e seu território se estende por 11 fusos horários. Geografia, logística e fusos horários determinaram a escolha das cidades sede. Os jogos se darão em 11 cidades: Moscou, São Petersburgo, Kaliningrado, Kazan, Rostov do Don, Samara, Sochi, Saransk, Volgogrado, Ninji Novgorod e Ecaterimburgo.

Todas as sedes localizam-se a oeste dos Montes Urais, à exceção de Ecaterimburgo que fica nos contrafortes orientais dessa cadeia de montanhas que separa a Rússia europeia da Rússia asiática. A parte europeia da Rússia abrange apenas 25% do território, mas abriga aproximadamente 75% da população russa. Prudentemente, a seleção das sedes evitou um pesadelo logístico: nenhuma seleção se deslocará mais de 2 mil quilômetros no trajeto entre duas cidades.