segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Mist é um grupo de economias que se notabiliza por altas taxas de crescimento, disciplina fiscal e monetária e constante promoção do ambiente de negócios
O termo Brics – sigla que se refere ao grupo de países em desenvolvimento composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, que por uma década foi pronunciado à exaustão como promessa de crescimento e retorno aos investidores, está a um passo de ter um concorrente. O motivo é a ascensão de outro time de emergentes que atende pelo apelido de Mist: México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia (). Esses países crescem mais, passaram nos últimos anos por turbulências econômicas menos profundas e possuem menos burocracia. Em suma, são hoje vistos como um novo oásis num mercado frustrado por perdas na Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, no Brasil e na China. Jim O'Neill, presidente do Goldman Sachs Asset Management (GSAM) e criador da alcunha Brics, é considerado o autor, mesmo que involuntariamente, da nova sigla. "Muitos pensam que criei esse acrônimo, mas ele nasceu do fato de eu ter definido, cerca de quinze meses atrás, onze novos países como economias promissoras. Como, do grupo de onze, os quatro são os que mais se destacaram, jornais disseram que havia criado o conceito de Mist. Achei engraçado", disse em entrevista ao site de VEJA.

Mist: as novas potências que hoje ofuscam os Brics

Desaceleração dos BRICS abre espaço para um novo grupo de promessas econômicas formado por México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia

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México: junto com os EUA na dor e na sorte

Maquinista trabalha na montagem de uma turbina em Tijuana, México A dependência econômica do México em relação a seu vizinho, os Estados Unidos, foi sua maior dor nos últimos anos, mas também sua maior sorte. Após quatro anos sombrios, a economia americana dá sinais cada vez mais claros de recuperação – e o México se beneficia quiçá mais dessa nova realidade que os próprios americanos.
Enquanto a expectativa para a expansão do PIB dos EUA em 2012 é de 2%, o México deverá crescer 4%. O país também colhe os frutos de investimentos em infraestrutura e privatizações feitas na década de 1990. Ainda que controversas – já que, em alguns casos, criaram verdadeiros oligopólios, como no setor de telecomunicações –, as privatizações propiciaram ao país um ambiente de crescimento menos atravancado que o do Brasil. Além disso, a própria influência da Casa Branca faz com que o governo mexicano interfira pouco na economia do país, o que proporciona um ambiente de estabilidade aos investidores. A taxa de juros no México permanece inalterada em 4% ao ano desde 2008.
Contudo, o principal ativo mexicano é hoje justamente a conjuntura econômica chinesa. Com a valorização do yuan e o aumento dos custos trabalhistas, a China está deixando de ser o país mais barato para se produzir, sobretudo para os EUA – seu maior parceiro de manufatura. "O México sofreu um baque quando a China se tornou o maior exportador para os Estados Unidos. Agora que a China não está mais tão barata assim, o México vai se beneficiar", diz Jim O'Neill, ao explicar porque o país latinoamericano é seu "MIST" preferido. O fácil acesso ao mercado interno dos EUA e a proximidade geográfica fazem do México uma nação mais atrativa aos negócios do que o Brasil, diz a Economist Intelligence Unit (EIU).
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O'Neill – que não utiliza mais o termo “economias emergentes” para se referir aos BRICS por achar que elas "já emergiram" – criou o grupo dos onze incluindo nações que, anos atrás, não seriam nem lembradas como promessas de ganho aos investidores. Além do Mist, o economista escolheu Bangladesh, Egito, Irã, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Vietnã como mercados que, juntamente com os BRICS, se tornariam as maiores economias do século XXI. De acordo com as estimativas do executivo, Brics e Mist terão juntos um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 12 trilhões de dólares ao fim desta década em termos reais – dois terços provenientes dos Brics e um terço do total vindo da China. “Os Brics são muito importantes e ainda não se pode compará-los com os MIST”, afirma O’Neill.
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Comparações à parte, a expansão econômica de México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia é inegável, enquanto o mundo desenvolvido agoniza em recessão ou estagnação econômica, e muitos emergentes veem seu dinamismo se esvair claramente. “Os países do MIST estão ganhando visibilidade por causa da desaceleração dos Brics. Brasil, Índia e China estão experimentando taxas de crescimento abaixo do previsto neste ano, não apenas devido ao ciclo econômico, mas também porque tomaram medidas que não foram tão bem recebidas pelos mercados”, afirma Christopher Garman, diretor de estratégia de mercados emergentes da Eurasia Group. No caso do Brasil, em particular, ele diz que o investidor está pessimista, sobretudo, com o baixo crescimento – que deve encerrar o ano em 1,75% segundo previsões do mercado financeiro. Contudo, ele lembra que os mesmos investidores avaliam que os esforços da presidente Dilma Rousseff para estimular o PIB – tais como os pacotes que têm sido anunciados e as medidas para ajudar a indústria – mostram uma “luz no fim do túnel”.
 
Ciclos – O surgimento de levas de países que dão um salto rumo ao desenvolvimento não é fato isolado na história da economia global. Os Estados Unidos e o Japão, por exemplo, já foram nações emergentes que surpreenderam o mundo com seu vigor. Olhar para além dos Brics pode ser considerado, portanto, algo natural. “Muitos investidores começam a olhar para histórias de crescimento fora dos BRICS, e alguns fundos estão apostando em países do segundo escalão dos emergentes”, conta Garman. “O Mist reúne essencialmente os maiores países depois dos Brics”, completa. Apesar de economistas e investidores falarem dessa seleção de países há dois anos, tal predileção ganhou adeptos nos últimos meses por conta do agravamento da crise financeira europeia e seu impacto nos emergentes dos Brics – com destaque para o vexame brasileiro.


Ambiente de negócio – Além do fato de serem países em desenvolvimento com economias fortes – todos fazem parte do G20, o grupo das vinte maiores economias do planeta –, as principais características que unem os Mist são mercado consumidor atrativo e o fato de estarem melhorando constantemente seu ambiente de negócios. “Isso faz com que investidores os vejam como lugares para se investir no longo prazo, inserindo-os em um portfólio global diversificado”, diz a analista da Economist Intelligence Unit (EIU), Justine Thody.
É inegável, porém, a atração que exercem dados que comprovam pujança econômica sobre estrategistas e investidores globais. México e Indonésia, por exemplo, cresceram, respectivamente, 4,1% e 6,4% no segundo trimestre deste ano na comparação com igual período de 2011 – contra míseros 0,8% do Brasil. O mais impressionante, na visão do mercado, é que tais números se apresentem num momento em que o mundo patina e grande parte dos países revisa para baixo suas previsões para o PIB.
Disciplina macroeconômica – Alfredo Coutiño, diretor da Moody’s Analytics para a América Latina, explica que essa expansão “fora da curva” é resultado basicamente da disciplina macroeconômica (fiscal e monetária) dos governos do MIST, além da constante promoção dos negócios com melhoria da regulação, oferta de segurança jurídica e abertura ao mercado internacional. “O ponto em comum entre os quatro é que eles são gerenciados por equipes econômicas com filosofia pró-mercado, o que dá segurança e deixa os investidores felizes”, afirma.
Ressalvas – Mesmo com a popularização recente, o novo elenco enfrenta certa resistência por parte de alguns economistas.  Alguns acreditam que Brasil, China e Índia logo recuperarão o fôlego e retomarão o centro das atenções. Outros apontam que os fundamentos que sustentam esse crescimento vultoso do Mist são temporários. Coutiño destaca que, ainda que México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia suportem elevadas taxas de ampliação do PIB por vários anos, seu conjunto é ainda pequeno para substituir o papel dos BRICS como locomotivas da economia internacional. Somente o Produto Interno Bruto somado de Brasil, Rússia, Índia e China é quase quatro vezes maior que o do MIST: 13,5 trilhões de dólares contra 3,9 trilhões de dólares (
quadro comparativo dos BRICS e dos 'MIST'

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